Benedetto Saraceno, coordenador da Plataforma Gulbenkian para a Saúde Mental Global

O uso dos psicotrópicos deve ser independente das pressões da indústria farmacêutica”

“Desenvolver um processo de seleção de medicamentos, regular a disponibilidade de medicamentos psicotrópicos, desenvolver políticas de acessibilidade financeira aos medicamentos, adotar guidelines baseadas nas evidências, monitorizar a utilização de medicamentos, promover atividade de formação sobre a utilização adequada de medicamentos psicotrópicos são questões sensíveis pelas suas implicações políticas, económicas e científicas e para a saúde pública dos nossos cidadãos e das nossas comunidades”, declarou Benedetto Saraceno, coordenador da Plataforma Gulbenkian para a Saúde Mental Global, no ato de abertura do Seminário Internacional “Melhorar o Acesso e a Utilização Adequada de Medicamentos nas Doenças Mentais” que a entidade que dirige organizou nos dias 23 e 24 de Março, na cidade da Praia, em colaboração com o Lisbon Institute of Global Mental Health e a Organização Mundial de Saúde (Departamento de Saúde Mental e de Abuso de Substâncias).

“Esta reunião de Cabo Verde lidou com uma questão importante de saúde mental pública ao discutir um documento de orientação preparado em conjunto com a OMS em Genebra e com a contribuição fundamental do professor Conrado Barbui, catedrático de Psiquiatria da Universidade de Verona”, afirma o professor Benedetto Saraceno, que agradece às autoridades do Governo de Cabo Verde “por terem aceitado acolher esta importante reunião internacional”, assim como à OMS, o seu escritório de Genebra, da região da África e o escritório local na cidade da Praia “por ter apoiado e colaborado com este projeto”.

Este encontro, que juntou 112 quadros de instituições de saúde mental e farmacêuticas nacionais e internacionais, nomeadamente de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Itália, foi a quinta reunião que Plataforma Gulbenkian para a Saúde Mental Global coorganizou nos últimos tempos no sentido de desenvolver modelos inovadores no contexto da agenda de saúde mental da OMS, visando promover o conhecimento baseado em evidências científicas, que podem contribuir para o desenvolvimento das políticas de saúde mental pública, ora produzindo documentos de orientação ora promovendo a discussão entre as autoridades e os profissionais de saúde pública.

A Plataforma Gulbenkian para a Saúde Mental Global, que é uma parceria da Fundação Gulbenkian com o Lisbon Institute of Global Mental Health, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e o Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, foi concebida e é dirigida por uma equipa de grande prestígio composta pelos professores Jorge Soares e Sérgio Gulbenkian, da Fundação Gulbenkian, e José Miguel Carlos de Almeida, catedrático de Psiquiatria da Universidade Nova de Lisboa e presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health.

“Durante seis anos eu tive a honra e o privilégio de coordenar este grupo de trabalho que, desde a sua criação em 2012, dedica-se às questões chave para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde mental, guiadas pelos princípios de equidade e da justiça”, diz Benedetto Saraceno. Além do tema “Melhorar o Acesso e a Utilização Adequada de Medicamentos nas Doenças Mentais”, discutido em Cabo Verde, a atividade da plataforma tem sido guiada por outros quatros assuntos. Em Novembro, na cidade de Lisboa, promoveu um fórum internacional onde se apresentou evidências científicas atualizadas sobre os efeitos da crise económica na saúde mental das populações e discutiu-se as estratégias que podem minimizar os seus riscos em países como Portugal.

Na Índia, realizou uma reunião em que se discutiu as relações fundamentais entre a saúde física, as doenças não transmissíveis (câncer, diabetes, hipertensão, enfermidades cardiovasculares) e a saúde mental e as suas implicações. O terceiro debate, que teve lugar no Brasil, dizia respeito à necessidade de superar o modelo assistencial tradicional de cuidados de saúde mental baseado no hospital psiquiátrico, que não oferece qualidade e onde o estigma sobre os pacientes é maior, para desenvolver redes de cuidados comunitários.

E na cidade de Tiblissi, na Geórgia, a Plataforma Gulbenkian para a Saúde Mental Global coorganizou o encontro internacional em que se expôs o documento de orientação sobre a necessidade de proteger os direitos das pessoas com doença mental, em especial as crianças, em contextos psiquiátricos.