Para assinalar o Dia Mundial da Saúde, celebrado no dia 7 de abril, a Ordem dos Médicos de Cabo Verde (OMC) promoveu ontem, 7, uma mesa-redonda com profissionais da área, dedicada à saúde materna e neonatal, sob o lema “Do Passado ao Futuro: Semear Inícios Saudáveis para Colher Futuros Esperançosos”. O país evolui bastante em matéria de recursos e políticas desde que se tornou independente, há 50 anos, mas segundos os oradores da mesa-redonda, é chegado o tempo de elevarmos de patamar, mais uma vez, revisando as políticas e adquirindo mais recursos materiais e humanos.
A Dra. Yorleydis Rosabal, diretora do Serviço de Proteção e Promoção Integrada à Saúde (Ministério da Saúde), e uma das oradoras da mesa-redonda, sublinhou que, apesar de existir um programa voltado para a saúde infantil, nos últimos anos houve um aumento das mortes infantis neonatais, daí que, recomendou a mesma, é necessário que Cabo Verde faça uma reflexão interna para rever as políticas voltadas para as comunidades.
Por outro lado, disse a Dra. Rosabal, é preciso sensibilizar a população sobre a importância da saúde infantil e a adoção de práticas que possam reduzir o índice de mortalidade. “Embora o programa de saúde reprodutiva tenha estratégias para responder aos desafios, os indicadores mostram um aumento na taxa de mortalidade. É necessário garantir o acesso das grávidas às consultas pré-natais, investir em ecografias para detetar irregularidades, formar mais profissionais e utilizar a telemedicina para ampliar o acompanhamento”, frisou esta médica.
Melhores cuidados e critérios
A Dra. Fátima Sapinho, outra especialista convidada a participar na mesa-redonda, e que tem um percurso marcado por experiências relevantes nas áreas de ginecologia, obstetrícia, medicina geral e clínica em diversas regiões de Cabo Verde, centrou a sua alocução nas principais causas de mortalidade neonatal, destacando a prematuridade, as infeções e a asfixia como fatores críticos.
“Temos feito avanços, mas ainda usamos critérios antigos, como considerar viáveis os bebés só a partir das 24 ou 26 semanas, o que impacta nas estatísticas. Antes, havia muitos casos de tétano neonatal devido a práticas como cortar o cordão com objetos não esterilizados, mas com a vacinação das grávidas conseguimos praticamente eliminar isso”, explicou a Dra. Fátima Sapinho.
A conversa aberta também permitiu um olhar histórico sobre a evolução dos cuidados materno-infantis em Cabo Verde, reconhecendo os avanços alcançados desde a independência.
Aumento de mortes neonatais
O Dr. António Cruz, diretor do Serviço de Neonatologia e especialista nesta área, destacou que a escassez de investimentos nos serviços neonatais e nas consultas pré-natais tem sido um fator determinante para o aumento das mortes neonatais no país. Ele sublinhou a necessidade urgente de melhorar a prevenção e os cuidados desde a gestação até o pós-parto como medida imprescindível para Cabo Verde reverter este cenário.
“Nos últimos dois a três anos houve uma piora considerável, com 10% das crianças nascidas no Hospital Agostinho Neto sendo prematuras, o que é considerado extremo. Muitas mães chegam ao hospital sem nenhuma consulta pré-natal. Para mudar essa situação, é necessário melhorar a ecografia fetal e investir na formação a nível nacional, garantindo assim um acompanhamento adequado durante a gestação e melhores cuidados para as mães e bebés”, disse o Dr. António Cruz.
Aperfeiçoamento dos cuidados é urgente
A Dra. Ludmilde Pina, especialista no Hospital Regional Santa Rita Vieira (Santiago Norte), salientou por sua vez que, em termos de atendimento e cuidados materno-infantis nessa região sanitária, a situação já foi melhor. Ela afirmou que houve uma queda nos indicadores de cuidados primários neonatais, o que indica a necessidade de melhorias na qualidade do serviço prestado.
“Estamos vendo um aumento de hipertensão e pré-eclâmpsia nas grávidas, além de prematuridade relacionada a infeções não diagnosticadas a tempo. Embora existam protocolos, a alta mobilidade de recursos humanos prejudica a continuidade e a implementação das normas”, afirmou a Dra. Ludmilde Pina.
O evento aconteceu na sede da OMC, em formato híbrido, permitindo a participação tanto presencial quanto virtual, para celebrar o Dia Mundial da Saúde, comemorado anualmente a 7 de abril. Esta data foi a ocasião escolhida pela Ordem dos Médicos de Cabo Verde (OMC) para promover um debate público sobre temas fundamentais para o país.